Curitiba, Brasil, 1958
Quando nos aproximamos dos rastros vitais que compõem a obra de Laura Miranda, percebemos que seu fazer artístico guarda afinidades profundas com a investigação alquímica. Gestos, objetos e lugares distantes, aparentemente desconexos, colaboram em um trabalho corporal e ritualístico de imantação dos espaços e alteração dos significados. Transmutados pela artista, eles adquirem nova vibração e se tornam veículos pelos quais podemos nos comunicar com muitos âmbitos do mundo, nos religar a outros possíveis e diluir as fronteiras entre sujeito e ambiente, entre imaginário e real.
Em 1985 Laura Miranda aponta para seus principais interesses e métodos com a exposição Impressões Digitais, feita em parceria com as artistas Denise Bandeira e Eliane Prolik. A mostra, composta por trabalhos em pintura, metal, outdoor e vídeo, apresentou aspectos que se consolidaram ao longo da obra de Miranda: o trabalho com o corpo, a experimentação em diversas mídias e a colaboração com outras e outros artistas na formação de uma malha poética rica, aberta às diferenças e trocas intersubjetivas. É também essa consciência sobre o que é comum que afasta Laura Miranda do ponto de vista privilegiado presumido pelo artista etnógrafo, possibilitando assim que suas viagens ao redor do mundo sejam fio de enlace entre delicados e potentes nós de uma rede de criação e experiência estética compartilhadas, que se prolongam no tempo e no espaço.
Exemplo dessa sensibilidade são projetos como Spirare (2003 – 2004), em que Miranda tece relações entre a indumentária e a caligrafia típicas do Japão e a história dos imigrantes europeus que no século XIX colonizaram a região da reserva ambiental do Passaúna, próxima à Curitiba. Integrando esse projeto está a série Vestes (2003 – 2004), que aborda questões sobre o deslocamento e a constituição de heranças simbólicas a partir de roupas-fantasmas: kimonos e xales de látex moldados sobre as paredes e assoalhos das casas de madeira que formam o frágil inventário material da ocupação estrangeira na região. As Vestes são como itens arqueológicos desse sítio, carregando consigo a potência inapagável da memória e presentificando o corpo dos imigrantes justamente pela força de sua ausência.
A pesquisa sobre o corpo destaca-se também em Líquens (2014 – 2015). Conectado às viagens que Miranda fez à Índia e realizado em parceria com a artista Mônica Infante, o projeto fala da simbiose entre o mundo mineral, vegetal e animal, localizando no corpo o espaço aberto a essa relação tríplice. Na obra em vídeo que abre o projeto, temos a presença dos corpos das duas artistas que, em vestes brancas, movem-se pelo leito de um córrego em mata fechada. Os gestos que realizam são lentos como o devir silencioso e constante da natureza, imerso na temporalidade de transformações que tendem ao infinito. Tingindo-se com o leite animal, o índigo vegetal e o pó do ouro mineral, esse afluente do Ganges em pleno Passaúna contorna os corpos, lhes fornece um abrigo primordial e lhes recobra suas identidades como eixo irredutível de síntese e transformação.
G.G.S.
Laura Miranda - O solo, um lago, as árvores e as estrelas
Laura Miranda apresenta na sua individual no Instituto Tomie Ohtake um recorte de sua produção. No vídeo, a artista e o diretor de arte contemporânea da Dan Galeria, Flávio Cohn, comentam sobre as séries "Líquens", "Estrela Canina" e "Tenchi".
Depoimento de Agnaldo Faria na exposição Laura Miranda - O solo, um lago, as árvores e as estrelas
A mostra “Laura Miranda – O chão, um lago, as árvores e as estrelas”, que fica aberta para visitação no Instituto Tomie Ohtake de terça a domingo, das 11h às 20h até 30 de janeiro. Visite!
Individual de Laura Miranda no Instituto Tomie Ohtake
No dia 13 de novembro, sábado, estreia a exposição “Laura Miranda – O chão, um lago, as árvores e as estrelas” no Instituto Tomie Ohtake.
Mulheres à Frente
Nunca é tarde para estender homenagem às mulheres. No último dia de março de 2020, a Dan Galeria apresenta a coletiva Mulheres à Frente, reunindo artistas brasileiras de extrema relevância e participação na nossa história da arte.
Exposição "Linha, Cor e Movimento"
Apresentamos Linha, Cor e Movimento. A nova exposição online de acervo da Dan Galeria.