Campo dos Goytacazes, Brasil, 1949 —
São Paulo, Brasil, 2016
Do que é possível ser praticado por um artista, pouquíssimas são aquelas realizações que escaparam a Ivald Granato. Não é de se espantar, portanto, que ele seja um dos precursores da performance no cenário artístico brasileiro. Incluindo o seu próprio corpo, numerosos são os suportes e meios que empregou na feitura de sua obra, ato contínuo e intenso de uma criação inquieta e provocativa.
Ainda que Granato seja conhecido sobretudo pela prática de performances como I’m not Andy Warhol e Mitos Vadios, é à pintura que consagrou a maior parte de sua produção artística. Nela o artista consegue transmitir espontaneidade e vivacidade, conquistadas com pinceladas rápidas e livres, cores intensas e vibrantes, o que resulta em trabalhos de corporalidade expressiva e frenético gesto criativo.
Assim, há obras que dialogam com a Pop Art, como as da Série Pop, dos anos 60, mas também a expressividade gestual de Gata (1982), na qual é criada uma figura híbrida de uma gata combinada ao corpo simplificado de um peixe rodeada por grafismos. Já em um trabalho como A Natureza-Morta que Picasso Pintou e Deixou em Minha Casa Quando eu Tinha Cinco Anos (1979) Granato utiliza procedimentos do cubismo para dar um tratamento tendente ao abstrato às figuras vagamente antropomórficas, enquanto que em Margot (1981) a figura humana ganha um tratamento fantasioso e expressivo. Granato também experimentou com releituras da história da arte, como Sem Título/Monalisa, pertencente à série Heads, dos anos 2000, na qual o artista substitui o rosto da Monalisa pela silhueta de uma cabeça cujos traços se baseiam no formato da cabeça de seu pai, e também numa obra como Baconato (2013), onde o artista se pintou sobre a imagem do artista Francis Bacon. Além disso, Granato também fez incursões pela abstração, como o exemplifica a obra O Quadro em Frente do Dólar (1983), na qual se destacam as cores e a expressividade das pinceladas.
Em toda obra pictórica de Granato domina a força da gestualidade, a presença intensa do corpo do artista na obra. O gesto aqui opera como evidência do potente ato criativo, cujo movimento e energia preservam-se presentes na obra acabada, atualizando constantemente o processo gerativo que é a própria pintura. Mais do que isso, esta surge sempre como acontecimento, sinal paradoxal da criação que permanece inédita mesmo após a consolidação do seu próprio ato.
V.R.P
“Para falar a verdade, o Granato me ensinou a pintar; a repintar. Ele foi um dos maiores coloristas que já vi! A cor no seu traço adquiria vida e expressão” José Roberto Aguilar.
“Granato tinha uma compenetração que era de sua personalidade, mas, ao mesmo tempo, o relaxamento de gente da rua, do povo. O resíduo acadêmico dele era só um pequeno verniz. Sua expressividade era muito simples, popular” Gilberto Gil