Viena, Áustria, 1912 —
São Paulo, Brasil, 1987
Basta deixar a vista vagar pelas obras de Lothar Charoux para que se perceba a riqueza do essencial. Afinal, está tudo ali, nada mais se faz preciso nessa poética imanente das linhas e da geometria, uma inerente suavidade que não é atravancada pelo rigor, mas, pelo contrário, por ele liberada.
Nascido em Viena, Charoux emigrou para o Brasil ainda moço, em 1928. Já em São Paulo, estudou no Liceu de Artes e Ofícios, onde se formou durante a década de 30. Seus primeiros trabalhos são figurativos, paisagens e retratos, muitos deles expressionistas. Mas não tarda para que o artista dispense o compromisso com a representação e volte-se ao que é concreto na pintura: as linhas e as cores. Pioneiro na pesquisa sobre a abstração geométrica, Charoux participou em 1952 da fundação do Grupo Ruptura, assinando também o seu manifesto.
Com linhas precisas e sensíveis, Charoux procede uma investigação do espaço bidimensional que explora o campo ótico ao gerar ilusões de profundidade e volume, experimentando com a refração da luz, a cintilação das cores e os efeitos cinéticos, conquistados sempre com uma geometria vibrante e viva, cujas combinações são inesgotáveis. Há, assim, em um trabalho como Composição (1959) uma repetição da forma que se desdobra com volume sobre o plano, instilando um senso de virtualidade, enquanto que em Refração (1961), a partir da exploração do cromatismo, o artista realiza simultaneamente um estudo exemplar da refração da luz sobre o plano. A partir de 1960, suas composições bidimensionais parecem buscar a superação do plano pictórico e continuar no mundo para além do quadro, unindo-os.
Mais do que levar o espectador a um escrutínio da percepção visual, faz parte do trabalho artístico de Charoux a interação entre observador e obra. Assim, seus “tortinhos”, quadros postos tortos na parede e nos quais o equilíbrio é conquistado quando a linha se posiciona perpendicular ao piso, eram muitas vezes “endireitados” pelos observadores. Seus projetos de painéis multicombináveis propunham que os diversos módulos pudessem ser combinados e ordenados por todos aqueles que interagissem com eles. Em todas essas intenções desvela-se, portanto, a ambição de uma arte que não se faz em oposição à vida comum, mas participativa e próxima, atuante sobre o sensível cotidiano a fim de propiciar uma percepção ativa e autêntica do mundo circundante.
V.R.P.