Ciudad Bolívar, Venezuela, 1923 —
Paris, França, 2005
Um dos precursores da arte cinética, Jesús Soto, ao fazer do tempo, do espaço e do movimento matérias-primas de seu trabalho artístico, desenvolveu uma obra que desafia a fronteira entre arte e investigação científica, habilitando uma nova interação entre o sujeito e a obra de arte que acaba por consolidar também uma relação renovada com o próprio real.
Formado na Escola de Artes Plásticas de Caracas, Soto muda-se para Paris em 1950, onde entra em contato com o construtivismo russo, o neoplasticismo e a música dodecafônica, influências decisivas em sua busca por uma abstração totalmente destituída de quaisquer resquícios figurativos e antropocêntricos. Deste modo, já no início dos anos 50 o artista promove experimentos envolvendo serialização e progressão das formas geométricas, cuja repetição pode desdobrar-se indefinidamente, o que gera a sensação de movimento e de uma consequente passagem do tempo, como na combinação entre módulos fixos e móveis de Rotación (1952) ou a Pintura serial (1952-53), nos quais os triângulos de distintas dimensões são dispostos em uma série unidirecional e potencialmente perpétua. Contudo, é a partir do emprego do plexiglas que Soto pode tornar tempo e espaço elementos plenamente integrados ao seu trabalho, no qual o dinamismo produz-se a partir do deslocamento do espectador, agora capaz de descobrir a obra inesgotável em suas variações virtuais.
Os desenvolvimentos do trabalho do artista aprofundam essa tendência à inclusão e indispensável participação do espectador. Assim, nos anos 60 Soto passa a realizar obras de grande dimensão, que exploram o espaço arquitetônico das exposições para envolver e circunscrever o visitante, acabando por radicalizar totalmente a inclusão do espectador na obra com a série dos Penetrables, que ocupou o artista por quatro décadas a partir de 1967.
Diversos em sua dimensão e quantidade, os Penetrables são instalações que se parecem com uma chuva de barras metálicas ou de plástico, suspensas no ar. Ainda que possam ser observados pelo seu aspecto exterior, os Penetrables completam-se apenas quando vividos a partir de seu interior, onde o espectador metamorfoseia-se em parte da obra e a ativa em suas potências espaciais e sonoras, dando vida a uma experiência do espaço e do tempo enquanto unidade e duração, de modo que a arte se torna inesgotável, assim como as possibilidades de investigação da relação entre o corpo e o mundo.
V.R.P
Exposição "Linha, Cor e Movimento"
Apresentamos Linha, Cor e Movimento. A nova exposição online de acervo da Dan Galeria.