São Paulo, Brasil
15/04/2023 - 26/08/2023
Pioneiro da arte cinética, o artista visual venezuelano Jesús Rafael Soto teve como foco em sua criação a busca pelo movimento em suas obras. O artista inovou criando peças que pareciam ter vida própria e que instigavam pela mobilidade, dinâmica e vibração. Celebrando o centenário do artista, a DAN Galeria, que comemora 50 anos de trajetória e representa Soto desde a década de 90, ocupa as suas duas unidades na capital paulista com a mostra Jesús Soto – Cor, Forma, Vibração, a partir do dia 15 de abril. A curadoria é assinada por Franck James Marlot.
A música fez parte da vida artística de Soto no mundo das artes. Ele, que inicialmente se inspirou nas estruturas concretas de Mondrian e assumiu o desfio de criar uma obra que fosse além da síntese estética alcançada pelo artista, agregando uma nova dimensão que é o movimento na arte. Soto percebeu na música o jogo com duas camadas compostas pela linha rítmica constante e pela linha melódica variável, com relações entre as duas ao longo das composições.
Foi assim, unindo pintura e música, que Soto por meio da exploração da vertente da pintura abstrata, primeiro com sobreposições usando a transparência do plexiglass, e depois referindo-se às sobreposições de sons e ritmos, concebeu a técnica de arte cinética em seus trabalhos. Sua obra desafia a fronteira entre arte e investigação científica, habilitando uma nova interação entre o sujeito e a obra.
A individual apresentada pela DAN destaca 30 obras do artista produzidas entre as décadas de 60 e de 2000. A mostra inclui dois trabalhos de dimensões arquitetônicas, expostas pela primeira vez em galeria: Paralelas (1990), e Penetrável BBL Jaune (1999). Além destas, algumas obras da série Paralelas Vibrantes, outras da série Sínteses, e um seleção de esculturas de aço, alumínio, nylon, pvc, plexiglass e pintura sobre madeira, também ocupam o espaço expositivo. A mostra é a primeira individual realizada na unidade da DAN Contemporânea.
Os Penetráveis são instalações que se parecem com uma chuva de barras metálicas ou de plástico, suspensas no ar. Ainda que possam ser observados pelo seu aspecto exterior, os Penetráveis completam-se apenas quando vividos a partir de seu interior, onde o espectador metamorfoseia-se em parte da obra e a ativa em suas potências espaciais e sonoras, dando vida a uma experiência do espaço e do tempo enquanto unidade e duração, de modo que a arte se torna inesgotável, assim como as possibilidades de investigação da relação entre o corpo e o mundo. A obra foi uma criação inovadora do artista durante a década de 60.
Soto costumava chamar a obra de “espaços envolventes”. Segundo o artista, é preciso que “o corpo e a mente da pessoa que se integra à obra percam a noção de tridimensionalidade e se sintam imersos num espaço-tempo completamente pleno com a menor possibilidade de pontos de referência externos, pois o Penetrável não passa de uma minúscula advertência da imensidão da plenitude espaço temporal”.
Sobre as obras do venezuelano, comenta o curador Franck James Marlot “O deslocamento do espectador provoca efeitos visuais de “moiré” que dão a ilusão de um movimento rotativo rápido da espiral. O movimento aparece sem motorização. Com esta demonstração, Soto introduz a noção de espaço-tempo na sua obra, ativada pelo olho do espectador, que desenvolve não só uma dinâmica espacial, mas também temporal. É neste momento singular de diálogo em que a experiência entre o espectador e a obra, o objeto cinético, em sua singularidade, permite a multiplicação infinita de pontos de vista e cria uma imagem vibrante e em movimento, implicando experiências visuais mais amplas”.
Soto já mantinha uma relação com o Brasil desde a sua participação na IV Bienal de São Paulo, em 1956, e novamente em 1959. Mas foi na VII Bienal, em 1963, que o artista ganhou seu reconhecimento entres os brasileiros ao conquistar o “Prêmio Lobo”, concedido a artistas latino-americanos que participavam da mostra.
“De fato, não há duas experiências iguais no contato com as obras de Soto. A impressão retinal da obra no observador será alterada de acordo com o movimento interno e externo de quem a vê. Aí está o cinetismo da arte do artista venezuelano: produzir vibrações virtuais, intangíveis, que a partir da dimensão óptica envolvam o corpo todo”, comenta a historiadora da arte, Paula Braga.