São Paulo, Brasil, 1920 —
São Paulo, Brasil, 2004
Hermelindo Fiaminghi nos faz lembrar porque cor e iluminação são elementos basilares das artes visuais. Sua trajetória culmina na depuração da pintura até a forma mínima, para ressaltar vibrações de frequências de luz.
Embora tenha se tornado especialmente conhecido como pintor e desenhista, Fiaminghi exerceu profissionalmente as atividades de gráfico, publicitário e litógrafo, que constituíram parte significativa de seu solo criativo e mantiveram-no atento ao desenvolvimento das tecnologias gráficas industriais..
A primeira metade dos anos 1950 traz grandes mudanças para o artista: em 1952, ele encerrou sua produção figurativa com a obra Mulher Sentada, e passou a explorar a arte construtiva, como já se vê na tela Composição Vertical I (1953). Em 1954, o pintor deixou o ateliê de seu professor, Waldemar da Costa, e no ano seguinte, convidado por Luiz Sacilotto, começou a participar das reuniões do Grupo Concreto Paulista. Neste mesmo período, Fiaminghi ingressa no Grupo Ruptura, desenvolvendo trabalhos focados na criação de ritmos visuais de efeito quase hipnotizante. Também nessa época o artista inicia experiências com a impressão em offset, sendo considerado o introdutor desse processo gráfico na arte brasileira.
Em 1958, as obras de Fiaminghi anunciam nova mudança de rumo com a série Virtuais, que sutilmente introduz nos elementos pictóricos, reconhecidamente concretos, um jogo de transparências, de luz e de sombras. Esse fluxo de transformações deságua nos anos 1960 de modo impressionante com Corluz, que não apenas nomeia muitos de seus trabalhos como também designa um conceito estético criado por Fiaminghi para abordar, na própria obra, as possibilidades de geração e dissolução da luz a partir da vibração produzida por cores combinadas de modo estruturado. A exploração deste conceito pelo recurso à linguagem da retícula, típico elemento do mundo gráfico, materializa-se — ou, paradoxalmente, quase escapa do material — na radiância e alegria emanadas por trabalhos como Retícula Corluz II (1961) e Retícula Corluz VII (1962).
Os casulos que Fiaminghi pinta no final dos anos 1960 e começo dos anos 1970 parecem indicar um novo voo; um voo que precisa ser antecedido pela gestação cuidadosa, repousada depois do brilho ofuscante de verdadeiros sóis reticulares. Então, durante os anos 1980 e 1990, em obras como Despaisagem Retícula Cor-luz (1985) e Corluz 9416 (1994), Hermelindo Fiaminghi leva a Corluz a sua raiz impressionista, a Monet e Cézanne. A força desse retorno ao passado parece retroagir num diálogo com a produção anterior do próprio artista e finda numa liberdade refrescante: a soltura do traço, da estrutura, da cor impalpável.
G.G.S.