Chavantes, Brasil, 1923 —
São Paulo, Brasil, 1998
O que se quer dizer com a palavra “experimental”? Palavras em voga como “interdisciplinar” ou “multimídia”, que significam em arte? Geraldo de Barros apresenta uma produção que frequentemente é endereçada a tais categorias e ensina, reflexivamente, que a liberdade da pesquisa artística não prescinde de coerência e de propósito que, no seu caso, surge como horizonte utópico, promessa de um futuro captado e promovido pela forma.
Tendo começado seus estudos em desenho e pintura nos ateliês de Clóvis Graciano, Colette Pujol e Yoshiya Takaoka, Geraldo de Barros se distancia aos poucos da produção de telas com acento expressionista típicas do Grupo 15, do qual participou da fundação em 1947 e já por volta de 1948, produz a série Fotoformas, cuja emblemática exposição ocorreu em 1951, no Masp. Formada por um conjunto de fotografias em preto e branco ora com intervenção da gravura, ora com sobreposição de negativos, elas questionam o olhar corriqueiro: o mundo das coisas simples, sem sublinhado ou circunstância, desdobra-se no ritmo de planos que se estendem e oscilam num convite à translação de sentidos. O poder pictórico da abstração geométrica está ali, no equilíbrio entre o técnico e o pictórico, evitando o pathos do purismo fotográfico.
Geraldo de Barros anuncia nas Fotoformas dois pontos importantes do concretismo do Grupo Ruptura, cujo manifesto assinara em 1952: a crença na forma como causa para mudança social por meio da sensibilidade e a ênfase nos processos industriais, na serialização e no design como meios de veiculação dessas formas. Dialogando com as ideias de Walter Gropius, a vocação experimental e a arte de protótipos de Geraldo de Barros encontram o projeto bauhausiano. Os móveis Unilabor (anos 50 e 60) e Hobjeto (anos 60 e 70) materializam a investida industrial e comercial desse encontro. Especialmente no caso da Unilabor, vale lembrar que a transformação social pela forma se faz junto à associação operária rumo à autogestão, em exemplar associação dos termos: a forma de uma única cadeira revela, ponta a ponta, o material, o modo de produção e o seu propósito.
Interrompida pela morte do artista em 1998, a série Sobras, produzida a partir de negativos de fotografias da família do artista, expressam mais uma vez a habilidade de Geraldo de Barros em unir pontas, em borrar as beiras da imagem e dos objetos cotidianos e utilitários, gerando um dispositivo que questiona o próprio status do real; não para negá-lo, mas para constituí-lo.
G.G.S.
Exposição "Linha, Cor e Movimento"
Apresentamos Linha, Cor e Movimento. A nova exposição online de acervo da Dan Galeria.