Buenos Aires, Argentina, 1942
Em 1918, um grupo de artistas que incluía Piet Mondrian, Theo Van Doesburg e Georges Vantongerloo escreveu o Primeiro Manifesto De Stijl, declarando a existência de uma luta artística decisiva para a superação da dicotomia moderna entre indivíduo e mundo. Planos retangulares, cores puras e a predominância do movimento vertical e horizontal marcam o primeiro momento dessa vanguarda empenhada em trazer à tona uma nova consciência do tempo, fundada no equilíbrio sintético do individual e do universal.
A obra do pintor argentino Adolfo Estrada dialoga de perto com essas ideias, envolvendo-se em uma aura semelhante. Artista com um senso de investigação e consistência admiráveis, Estrada assume o retângulo como forma geométrica primordial tanto em suas pinturas quanto nas obras tridimensionais, incluindo aí seus projetos arquitetônicos. Telas como Pintura 0380 (2002), Pintura 0444 (2002) e toda a série de Quartorze Estações (1995) possuem uma alma própria que se origina nas ranhuras naturais da madeira ou do papel que as compõem, nas marcas gestuais da aplicação de cor e na vibração de composições ora mais serenas, ora mais sincopadas, emitindo assim uma sonoridade pictórica que favorece um ambiente de temporalidade rebaixada.
O arquiteto Carlos Martí Arís nota que Adolfo Estrada trabalha com “arquétipos espaciais”, assim como fizeram Maliévitch e Mondrian. Além das telas, também os trabalhos tridimensionais do artista revelam essa sua propensão ao âmbito arquetípico, simbólico. Dois retângulos se cruzam, um em sentido horizontal e outro no sentido vertical: evocação aos pequenos altares de madeira talhada que firmam o lugar do sagrado em meio à secularidade do lar. Porém, os diversos altares da forma executados por Estrada ao longo de 2002, por exemplo, emanam uma receptividade que certamente os distinguem da presença solipsista e até mesmo aterradora do Quadrado preto de Maliévitch, exposto em 1915 como um tradicional ícone religioso russo.
É deste modo que o trabalho de Adolfo Estrada parece aproximar-se de Rothko, projetando obras capazes tanto de usufruir quanto de instaurar um ambiente de silêncio e distanciamento sem, contudo, isolar terminantemente o indivíduo no desamparo. Tal parece ser o sentido tomado por obras como o mural do Hospital Universitário de Santiago de Compostela (2002) e a recente Capela de San Leonardo (2021), ambos realizados na Espanha. Temporalidade, espacialidade e sonoridade formam assim o amálgama estético das obras de Adolfo Estrada, conferindo a cada uma delas um corpo no mundo que é singular e dotado de uma poderosa força estruturante: síntese do individual e do universal.
G.G.S.
Exposição "Linha, Cor e Movimento"
Apresentamos Linha, Cor e Movimento. A nova exposição online de acervo da Dan Galeria.