LAb[au] - Painting, writing, calculating, transcoding

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Sobre


São Paulo, Brasil
31/08/2024 - 30/10/2024

escrita, pintura, cálculo e transcodificação

O LAb[au] – Laboratória de Arte de Urbanismo – é um coletivo artístico fundado em 1997 por Manuel Abendroth e Jérôme Decock. A sua rede de colaboradores conta com artistas como Els Vermang (2003-2022) e Thibault
Drouillon (desde 2023), entre outros. Suas obras dialogam com a arte conceitual, sistêmica e concreta, realizados com materiais, técnicas e formatos atuais. Adeptos de uma linguagem reducionista, serial e elementar, marcada pelo uso de cor, geometria, luz e movimento, o grupo investiga e questiona a estética contemporânea, contrapondo-a à lógica algorítmica.

O LAb[au] utiliza termos como modalidades, sistemas e conceitos para definir e estrutrar a sua produção artística ao longo dos últimos 25 anos. As modalidades, por exemplo, são usadas para distinguir instalações de arte de integrações arquitetônicas, estruturas artísticas distintas que cristalizaram-se a partir de suas pesquisas teóricas,
experimentais, contextuais e visuais. Esses aspectos também estão presentes no nome do estúdio/coletivo
LAb[au], um mot-valise de “lab” [laboratório], um lugar de pesquisa, e da palavra alemã bau, que significa
construção, remetendo, também, às origens do estúdio como escritório de arquitetura, elemento central de sua
prática até hoje.

Fundamentando-se na lógica algorítmica, o LAb[au] desenvolveu uma classificação própria para os sistemas
utilizados em seus projetos, distinguindo-os entre sistemas fechados, semiabertos e abertos, finitos e infinitos.

A permutação dessas propriedades permite uma ampla variedade de combinações que constituem a base de sua “taxonomia” artística. A série chronoPrints, por exemplo, é construída a partir de um sistema analítico, fechado e finito, que atribui as cores primárias da luz às unidades básicas de tempo, seguindo a equação: vermelho = horas,
verde = minutos, azul = segundos. A partir dessa equação, um computador imprime pequenos quadrados coloridos
sobre uma superfície, que, juntos, formam uma textura temporal, um gradiente cromático do tempo. Esses
cálculos visualizam a relação entre cor e tempo, revisitando e ressignificando um dos principais temas da pintura
clássica.

O coletivo também investiga a relação entre a arte e a linguagem, não apenas por meio da palavra escrita ou de
outras formas de codificação semântica, mas também através de signos, ou da semiótica, elaborando uma abordagem artística dinâmica centrada na transposição de elementos da ciência da informação e da comunicação
para o campo da arte. Tal como um lexicógrafo, o LAb[au] escreve livros e constroi bibliotecas, explorando
combinações formais infinitas, enumerando todas as maneiras possíveis de preencher, por inteiro, uma página em branco. Não por acaso, muitos dos trabalhos do LAb[au] nascem de conceitos específicos do campo da arte, como o monocromo. Expressão máxima da pintura, o monocromo serve de ponto de partida para o questionamento dos limites da linguagem, uma vez que os significados da monocromia – como o fascínio pelo vazio – transcendem sua
definição literal, demandando uma compreensão mais abrangente da arte. Dessa forma, o grupo explora a
tradição da pintura por meio de sua terminologia, inserindo-a, ao mesmo tempo, em um contexto cultural mais
amplo.

Já que qualquer linguagem pode ser recodificada em outras mídias, o LAb[au] utiliza cores, formas e padrões para
elaborar um léxico visual próprio, explorando conceitos de sintaxe, gramática e vocabulário e aprofundando sua pesquisa sobre as possibilidades de tradução ou transcodificação da expressão artística entre diferentes meios. Em seu trabalho mais recente, o LAb[au] cria um anagrama usando os nomes de certas cores para repensar o
significado do elemento mais básico e comum da arte pictórica: a cor. Ao transcodificar a linguagem escrita em um elemento visual, o grupo propõe uma percepção mais abrangente da cor, conectando-a à sua história e etimologia.
Se as “modalidades” são extraídas majoritariamente do contexto da prática artística contemporânea, e os
“sistemas” estão vinculados à lógica das tecnologias e mídias usadas na produção das obras, os “conceitos”, por
sua vez, proporcionam uma leitura mais temática, subjetiva e pessoal dos trabalhos do coletivo. Dessa forma, o
conceito spectr(a)um, ou espectro(s), baseia-se nos parâmetros elementares da cor, da luz e do som, definindo-os
e relacionando-os com o tempo e o espaço. O conceito spectr(a)um, ou espectro(s), por exemplo, baseia-se nas
características elementares da cor, da luz e do som, relacionando-os com as dimensões do tempo e do espaço.
1600 Years of Light [1600 anos de luz], um campo amarelo de energia que ocupa o centro do espaço expositivo é uma obra em constante transformação que revela a relação oculta entre cor, espaço e tempo, explorando o
espectro invisível da luz. Na segunda parte da exposição, introduzimos o conceito de randomOrder, ou
ordemAleatória, para questionar as regras e lógicas formais, contrapondo-as às noções de ordem e aleatoriedade.
O origamiLexicon explora diversas formas de preencher uma página em branco, baseando-se em cálculos,
processos estocásticos e outros métodos para explorar e indexar essas novas formas de expressão artística. Essa
atitude artística é sintetizada no título da exposição, que cita processos artísticos primários, contextualizando-os no mundo contemporâneo – um mundo onde escrever, desenhar, pintar, calcular e transcodificar são formas de
refletir sobre a natureza da arte e a nossa própria existência.