Jose Roberto Aguilar- Amazônia Vida

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São Paulo, Brasil
29/03/2025 - 29/05/2025

EM ALTER DO CHÃO
Rapsodo de imagens
Mário Schenberg (1914-1990), físico e crítico de arte, destacava o artista como um dos pioneiros da nova figuração no Brasil, tendência dominante na década dos anos 1960. Nessa época, José Roberto Aguilar pintava com spray e pistola (1965) e, em decorrência deste processo, desenvolveu uma pintura gestual, de fatura ágil e de forte expressão cromática.

Aguilar sempre pintou como um lutador. O embate entre tintas e tela e a coreografia gestual, são atores importantes na construção da sua poética visual. Isto é, o artista desenvolve um verdadeiro corpo a corpo com a tela, numa relação veloz entre pensamento e ação. Basta visitar seu ateliê para perceber que, nesses embates pictóricos, seus golpes de tinta extravasam, em muito, os limites da tela.

Desde sempre, Aguilar integrou a literatura e a música à sua expressão plástica. Vale ressaltar que o artista é, ele mesmo, escritor e músico. Na juventude, participou com Jorge Mautner e José Agripino de Paula (1937-2007), do grupo performático-literário Kaos, que trazia, em si, as sementes para o surgimento do movimento Tropicália (1968). Em 1981, Aguilar lançou o livro “A Divina Comédia Brasileira” e criou a “Banda Performática”, grupo musical da contracultura, da qual participaram, entre outros, Paulo Miklos e Arnaldo Antunes.

A primeira gravação (CD) de 1982, com o título Aguilar e a Banda Performática, traz nove canções, entre elas, “Você Escolheu Errado o Seu Super-herói” (canção de composição coletiva), que se tornou uma espécie de hino da contracultura, e, também, a canção “Estranheleza”, de Arnaldo Antunes.

Percebemos na pintura do artista a presença constante de uma gestualidade musical, de uma fabulação. Aguilar introduz conceitos, palavras, textos e letras à sua plástica. A narrativa adquire, muitas vezes, expressão épica, heroica. Haroldo de Campos (1929-2003), que analisou em profundidade a obra de Aguilar, chamou nossa atenção para esse aspecto poético do artista: “Rapsodo é aquele que urde ou ajunta poemas. Aguilar se apresenta como um rapsodo de imagens”.