Vicente do Rego Monteiro

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Biografia


Recife, Brasil, 1899 —
Recife, Brasil, 1970

O trabalho do pintor e poeta recifense Vicente do Rego Monteiro é evidência da abrangência territorial atingida pelo modernismo brasileiro, cuja efervescência se manifesta para muito além dos salões paulistanos. Deglutidor antes mesmo da enunciação da antropofagia, Monteiro busca o Brasil junto aos indígenas não apenas em suas lendas e mitos, mas sobretudo numa forma artística singular e avançada que aproxima o primitivo do moderno e faz cambiar os pólos da separação entre o selvagem e o civilizado.

Educado na Paris da Belle Époque, no meio do turbilhão vanguardista que revirou o mundo da arte, Monteiro revela em sua pintura uma distinta porosidade às mais diferentes influências. Em um trabalho inicial como a aquarela O nascimento de Mani (1921), já plena da temática indigenista que constitui repositório interminável de inspiração a  toda sua produção, o pintor pernambucano deixa ver, na representação de uma cena lendária, utilizando-se de grande apuro formal sintético e contorno com linhas estilizadas,  uma forte influência da arte egípcia, hindu e japonesa. Já em outras pinturas, como Mulher Diante do Espelho (1922) e a série O mundo que a cafeteria criou, dos anos 40, é nítido o emprego do cubismo, enquanto que em Diana (1929), Monteiro recorre ao surrealismo

No entanto, o que faz de Monteiro um pintor original na plenitude do termo são suas obras trabalhadas com um estilo muito particular, que emerge da união do cubismo e do art decó com a arte primitiva encontrada na cerâmica marajoara. Nasce desse amálgama entre moderno e ancestral uma linguagem pictórica expressa em pinturas de tons ocres e terrosos, como A Crucificação (1922) e Maternidade Indígena (1924), compostas de figuras agigantadas, sintéticas e rígidas, esquematizadas pelo apuro geométrico e dotadas de um forte efeito tátil, como se os contornos da figura não fossem pintados, mas sim esculpidos em relevo, impelindo o primitivo brasileiro a lançar-se opticamente para fora da tela, e tornar-se contemporâneo ao moderno.

V.R.P.