Düsseldorf, Alemanha, 1953
Na obra de Thomas Schönauer, a criação artística jamais se desvincula de um certo labor dos conceitos, de uma inquirição sobre o originário e o possível. Não à toa seu trabalho dissolve as fronteiras entre arte, ciência e filosofia, desdobrando uma particular dialética que agencia os processos do pensamento e da matéria na busca comum do despontar e vir a ser das coisas.
Para tanto, o artista mobiliza uma contínua e profunda preocupação dedicada ao espaço. Escultor, Schönauer não pensa o espaço apenas enquanto a área ocupada por um objeto escultórico, mas como o locus das interações entre o visível e o invisível, das relações entre os corpos em sua proximidade e distância, como uma transcendência que supera a imediata presença e se deixa anunciar no apresentar-se dos objetos. Essa reflexão sobre o espaço já se faz presente em obras produzidas pelo artista nos anos 90, como 19/96 (1996), nas quais subjaz um diálogo com a arquitetura não funcional e uma compreensão de que o vazio é tão essencial ao ser das esculturas quantos seus elementos sensíveis, sua matéria e forma. Mas é sobretudo em obras como aquelas pertencentes à série Skyfall que faz-se pronunciada essa compreensão da espacialidade como dimensão que não se restringe ao continente dos objetos. Nelas, os pesados módulos de aço têm seu aspecto transformado pela suavidade e vitalidade das cores, infundindo uma impressão de etérea leveza ao todo da escultura, que, como um redemoinho, parece movimentar seus componentes em direção ao solo. Essa acentuada tendência de queda comunica à escultura uma continuidade invisível que se estende em direção ao céu, como se o que é visível viesse de uma região e espaço extramundanos.
O mesmo tratamento do espaço enquanto transcendência estende-se também aos trabalhos de Schönauer com pintura. Ao procurar gerar um efeito de tridimensionalidade a partir do plano, o artista se afastou da pintura tradicional, desenvolvendo uma técnica própria baseada no uso de adesivagem industrial sobre o aço inoxidável. Através dessa inovação obtida com o auxílio da indústria química é que o artista pode alcançar os efeitos fascinantes de suas c.t-paintings. Utilizando apenas as cores básicas acrescidas do preto e do branco, Schönauer faz com que as tintas fluam sobre a superfície de aço, que as cores reajam e se misturem, haurindo figuras misteriosas que aludem aos micro e macrossistemas atuantes no mundo natural. Assim, não raro surgem pinturas que parecem lançar um olhar microscópico aos tecidos orgânicos e suas formações celulares enquanto que outras apontam para as dimensões inimagináveis das estrelas colapsadas, das supernovas e nebulosas ou então das formações geológicas e vulcânicas, como se em todos os casos a própria natureza atuasse sobre o plano pictórico.
Esses componentes teóricos e técnicos das pinturas de Schönauer se conjugam à sua prática escultórica na série de obras Atompops. Essas combinações aparentemente arbitrárias de esferas de aço inoxidável polido são cobertas ao acaso pela tinta derramada sobre elas, de forma intermitente, conforme a atuação da força da gravidade. Aqui, a cor concede unidade a essas composições corporais, que, no entanto, jamais deixam de preservar uma certa independência e individualidade, de modo que a ambiguidade fundamental da matéria, todo composto de partículas autônomas, não cessa de se manifestar. Além disso, o processo contínuo de transformação dos corpos compostos também se faz presente nos Atompops por meio dos espaços virtuais surgidos a partir dos reflexos das esferas, gerando variações moduladas pela luminosidade ambiente e a movimentação do observador.
Deste modo, a arte de Thomas Schönauer, em sua profunda exploração do espaço e da matéria, enseja um renascido espanto diante da realidade, um questionamento sem termo sobre a origem, a unidade e a dispersão das coisas que conduz a um inevitável fascínio em relação à própria emergência de tudo que veio a ser.
V.R.P
Exposição "Linha, Cor e Movimento"
Apresentamos Linha, Cor e Movimento. A nova exposição online de acervo da Dan Galeria.