Linda Kohen

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Biografia


Milão, Itália, 1924

Permeia a obra de Linda Kohen uma emocionalidade sensível e pungente, amálgama de solidão e memória que plasma toda uma metafísica da intimidade e faz ecoar no insondável abismo do coração o infatigável rumor do tempo.

Nascida na Itália, Linda ainda jovem conheceu o exílio e seu fardo de abandonos quando instalara-se com a família no Uruguai, fugindo às leis antissemitas de seu país natal. É nesse sul do mundo que a pintora realiza sua formação, tendo como mestres iniciais Pierre Fossey e Eduardo Venazza em Montevidéu, e Horácio Butler em Buenos Aires, para por fim terminar seu aprendizado no Taller Torres-García, onde ingressara em 1949. Povoam suas primeiras obras naturezas-mortas e paisagens da capital uruguaia, quando já se insinua a carga afetiva que reveste sua pintura e a atenção ao microcosmo do cotidiano, com seus objetos e lugares apreendidos em uma momentaneidade transitória, como a Caja Celeste (1960) e o Puerto de Montivideo (1960).

A partir da década de 70, predominam em suas pinturas o branco e os tons baixos, cores da dissolução, e figuras que alternam entre rígidas linhas retas e curvas suaves. Ganham espaço então temas que emergem da vida íntima de Linda, como as Cajas com um rojito (1987), cujo interior sela o passado materializado em pequenos artefatos, pronto a ser revivido pelo exercício das lembranças, ou os muitos pratos, talheres, garrafas, móveis, objetos aparentemente banais, que compõem sua série Las Horas (1976), remissões de uma cotidianidade frágil, desmanchada pelo regime autoritário que passa a governar o Uruguai. Já em Soledades (1980-1981), a pintora pratica uma forma peculiar de auto retrato na qual o elemento preponderante não é sua figura, mas a posição solitária de seu corpo em relação ao espaço circundante, revelada sempre a partir do tronco e dos membros, como em Acostada 1 (1981) e Caminando (1981). E na série La Cama (2002-2003), o leito onde ocorrem o nascimento, o amor e a morte, registra a inteireza da vida.

Em todos esses exemplos é notável o uso feito do elíptico e da incompletude. Esta pode apenas ser superada em um ato de preenchimento do observador, que, desconhecendo o universo interior da pintora, só o pode realizar sondando presenças e ausências que jazem em si mesmo, abrindo-se assim à angústia que Linda transmuta em imagem, essa vertigem  diante do cruel frescor do devir, que faz desvanecer os seres e as lembranças.

V.R.P.