Biografia


Vilnius, Lituânia, 1889 —
São Paulo, Brasil, 1957

É inerente à obra de Lasar Segall um humanismo pleno de lirismo e expressividade, profundamente imbricado nos dilemas artísticos e históricos de seu tempo, dando vazão a uma intensa formulação plástica do drama humano que marca o século XX, carregado de tristezas mas também de vida.

Nascido em Vilna, à época parte do Império Russo, Segall estudou nas Academias de Belas Artes de Berlim e Dresden. Suas primeiras pinturas revelam influência do impressionismo e da arte holandesa, como os trabalhos Asilo de Velhos (1912) e Leitura (1913), nos quais se combinam pinceladas vibrantes a uma luminosidade exterior que incide sobre a intimidade das cenas. Mas ainda nesse período inicial, como na litografia Vilna e eu (1910), o trabalho de Segall já anuncia uma tendência ao expressionismo que se intensifica após a eclosão da Primeira Guerra Mundial, quando ganham espaço trabalhos que refletem uma densa meditação sobre o sofrimento humano. Assim, nascem obras como Os Eternos Caminhantes (1919), cujas cores sóbrias e figuras angulosas comunicam um senso de desumanização e desterro imposto àqueles vitimados pela violência e pela catástrofe.

Em 1923, Segall emigra para o Brasil, deixando-se deslumbrar pela luz e cores tropicais. Sentindo-se irmanado ao país, o artista pinta Encontros (1924), obra na qual se retrata com um tom de pele característico da população brasileira. Em diálogo com o modernismo brasileiro, os trabalhos de Segall voltam-se para as paisagens e tipos humanos do Brasil, revelando sensibilidade com grupos sociais marginalizados. Em  Morro Vermelho (1926), à frente da paisagem de uma favela, uma mãe e um menino negros incorporam os papéis da Nossa Senhora e do Menino Jesus,  abraçados em um vinculo comovente e poético.

Para além das telas intimistas, há em Segall a grandiosidade do épico em uma obra-prima como Navio de Emigrantes (1939/1941). O arco frontal do imenso navio pintado em tons baixos faz-se repleto de figuras humanas que olham para trás, dominadas pela fadiga e pela desolação, como se constituíssem uma metonímia de todo um século eivado pela melancolia da perda e do exílio. Mas o mar aberto e o céu de uma tensa luminosidade, onde as nuvens se confundem com os pombos da paz, portam o anúncio cifrado de um futuro  possível, um acalento de esperança humana que o artista faz florescer em meio às tormentas de um tempo exaurido pela tragédia.

V.R.P