Ernesto de Fiori

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Biografia


Roma, Itália, 1884 —
São Paulo, Brasil, 1945

Nascido em Roma, porém descendendo de família de origem austríaca, Ernesto De Fiori cultivou laços mais profundos com a Alemanha do que com sua terra natal, chegando de fato a naturalizar-se alemão ainda jovem. Renomado na Europa como   escultor de qualidade e de espírito cosmopolita, o artista se viu forçado, ante o terror da ascensão nazista, a emigrar para o Brasil em 1936. Estabelecendo-se na cidade de São Paulo, onde já possuía familiares, De Fiori chamou a atenção de importantes críticos e artistas, vindo inclusive a colaborar com o desenvolvimento da Família Artística Paulista e do Grupo Santa Helena, ambientes em que exerceu reconhecida influência.

Tanto na Europa como em São Paulo, a produção escultórica de Ernesto De Fiori é caracterizada por um maior naturalismo da figura humana em comparação às esquematizações do modernismo em voga, que marcou a arte brasileira por meio de escultores como Victor Brecheret e Bruno Giorgi. Além disso, chama especial atenção a pele eriçada das figuras, resultante da forma ágil e enérgica com que o artista modelava e que produz na superfície das obras um interessante efeito de luz e sombras como pode ser visto no famoso busto da atriz Marlene Dietrich (1931) e na obra Mãos no cabelo (1940). Outro aspecto da escultórica de Ernesto De Fiori é a tensão interior e seriedade emanadas mesmo de esculturas como O atleta em repouso (1938) e o busto de seu jovem sobrinho, Christian Heins de Fiori (1939); tais atributos conferem a suas obras um efeito geral de ordem expressionista.

Algumas diferenças podem ser notadas entre os trabalhos que o artista realizou na Europa e aqueles desenvolvidos no Brasil, como o advento de uma volumetria material mais generosa e de um sutil arredondamento das formas escultóricas, distinções possíveis de serem exemplificadas pela comparação entre as esculturas Adam (1929) e Mulher em pé (1937). Ainda assim, tais mudanças não são suficientes para acomodar De Fiori na estética modernista brasileira da época. Por volta de 1938, são rejeitadas todas as obras que De Fiori encaminhou para os jardins da então nova sede do Ministério da Educação e Saúde, o Palácio Capanema, projetado pelo núcleo duro do modernismo arquitetônico e um de seus emblemas máximos no país.

É também no Brasil que De Fiori retorna resolutamente à pintura e ao desenho, em especial a partir de 1940. Pode-se mesmo crer que sobretudo na pintura o artista encontra uma linha de comunicação entre si e a realidade brasileira. Aqui, são as paisagens rurais e urbanas, os barcos a vela, as naturezas-mortas e as cenas do cotidiano que estendem-se numa ponte melancólica entre o lamento e a incerteza, como se o bronze O Fugitivo (1936) partisse da Alemanha já inexistente e decaída na qual fora abandonado e encontrasse, do outro lado do Atlântico, a cidade incompleta e precária pintada em Vista de São Paulo (s.d.).

G.G.S.