Brodowski, Brasil, 1903 —
Rio de Janeiro, Brasil, 1963
Na história da arte brasileira, a pintura de Portinari é um dos mais consistentes esforços em definir uma imagem representando o país com sua gente, festas, agricultura e mazelas sociais.
As cenas de brincadeiras de crianças e paisagens rurais do início da década de 1930 relembram com simplicidade lúdica a vida interiorana que o artista conheceu em Brodósqui. É interessante notar que, nessas primeiras composições, as figuras que jogam futebol ou empinam pipas têm proporções que remetem à primeira infância. Seria essa a representação de um país aprendendo a dar os primeiros passos? Os pés fortes fincados na terra caracterizam os trabalhadores das plantações de café, retratados por Portinari em tons terrosos e postura altiva. O interesse do artista por temas sociais achou no muralismo um suporte coerente, já que afeito a espaços públicos.
Sob encomenda do ministro Gustavo Capanema, do governo Getúlio Vargas, Portinari dedicou quase dez anos à elaboração dos murais do edifício sede do Ministério da Educação e Saúde, prédio de linhas modernistas que simbolizava um Brasil em desenvolvimento. Portinari cobriu paredes do edifício com os “Ciclos Econômicos”, em afrescos como Cana, Pau-Brasil, Garimpo, Borracha e Café. Ao mesmo tempo em que se alinhava a outros expoentes do muralismo na América Latina, Portinari pintava também retratos a óleo encomendados por colecionadores ou retratando figuras do meio intelectual brasileiro, como o artista Paulo Rossi Ossir, em cujo ateliê de cerâmica Portinari produziu os famosos ladrilhos que decoram o térreo daquele edifício.
A grande obra de dimensões muralistas do artista, o díptico Guerra e Paz, foi concluída em 1956, e encontra-se hoje na sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York. Tanto nesses dois grandes painéis de 14 metros de altura quanto na dramática série sobre os retirantes, dos anos 1940, fica clara a importância que Portinari atribui à fragmentação do espaço proposta pelo cubismo, também presente na pintura do altar da igreja da Pampulha e empregada em pinturas com temas históricos, como a primeira missa no Brasil e a coluna Prestes. O Brasil, sua gente e sua história, é contado por Portinari com a linguagem modernista para a caracterização da identidade nacional.